Dirigente do MST é assassinado na frente de seu filho

O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MS) Márcio Matos, conhecido como Marcinho do MST, foi assassinado em sua casa, nessa quarta (24), na frente do seu filho de seis anos. Márcio morava no assentamento Boa Sorte, em Iramaia, região da Chapada Diamantina (BA). A polícia descartou a hipótese de latrocínio, já que os criminosos não levaram nada do local.
O MST emitiu nota em que declara que Márcio foi uma referência política na luta pela terra no estado da Bahia. Em sua página na internet, o movimento se refere a Márcio como uma das principais lideranças Sem Terra no estado, conhecido pela articulação com os partidos de esquerda, movimentos e organizações populares. "No MST, assumiu a direção nacional ainda jovem e permaneceu na tarefa por oito anos, se destacando pelo perfil de mobilizador das massas. Atualmente, Márcio respondia por uma diretoria estadual e trabalhava na Secretaria de Administração de Itaetê", diz a nota.
O assassinato de Márcio integra um cenário de violência contra os trabalhadores e trabalhadoras do campo. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), 2017 foi um ano de muita violência, com 65 pessoas assassinadas em conflitos no campo, dado que confere ao Brasil o título de país mais violento às populações camponesas no mundo.
37 Congresso do ANDES-SN homenageia Márcio
Docentes de todo o país souberam da notícia durante o 37º Congresso Nacional do ANDES-SN, em Salvador(BA). Lamentando a violência contra os trabalhadores do campo, que atinge não apenas o trabalhador mas toda sua família, os participantes do Congresso dedicaram, à memória de Márcio Matos, um minuto de silêncio nesta sexta-feira (26).
Confira a nota publicada pela Direção Estadual do MST na Bahia sobre o assassinato:
NOTA | Toda nossa rebeldia quando matam um Sem Terra
É com pesar e revolta que recebemos a triste notícia do assassinato do companheiro Márcio Matos (33), dirigente do MST e referência política na luta pela terra no estado da Bahia. Marcinho, como era conhecido, foi morto na noite desta quarta-feira (24), em sua casa, localizada no Assentamento Boa Sorte, em Iramaia, na região da Chapada Diamantina. Segundo relatos dos familiares e amigos, o dirigente foi morto com três tiros na frente de seu filho.
Natural de Vitória da Conquista, no sudoeste baiano, tornou-se uma das principais lideranças Sem Terra no estado, conhecido pela articulação com os partidos de esquerda, movimentos e organizações populares. No MST, assumiu a direção nacional ainda jovem e permaneceu na tarefa por oito anos, se destacando pelo perfil de mobilizador das massas.
Pai, camponês, filho da classe trabalhadora e comprometido com a transformação social, Marcinho assumiu, no último período, a Secretaria de Administração de Itaetê e contribuiu diretamente com a Esquerda Popular Socialista (EPS), corrente interna do Partido dos Trabalhadores (PT).
Muitas das conquistas que tivemos nos últimos anos, Márcio esteve como um dos idealizadores, colocando em prática princípios como a solidariedade e o companheirismo, sem deixar passar despercebido valores forjados no bojo das lutas, como a sensibilidade política, a compreensão, o diálogo e uma incansável capacidade de se indignar com as injustiças.
A morte do companheiro se soma a um triste cenário nacional de violência contra os trabalhadores e trabalhadoras do campo. 2017, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), foi um ano sangrento. “O contexto vivido pelos povos da terra, das águas e das florestas exigiu teimosia, resistência e questionamento sobre o papel do Estado”, explica a entidade. Diante disso, aponta alguns dados parciais sobre a violência no campo. Segundo a Comissão foram 65 pessoas assassinadas em conflitos no campo, em muitos casos com requintes de crueldade, índice que confere ao Brasil o título de país mais violento às populações camponesas no mundo.
O cruel assassinato de Marcinho nos lembra que há cinco anos perdemos o companheiro Fábio Santos, que também era dirigente desta organização. Fábio foi assassinado com 15 tiros na frente de sua companheira e filhos, no percurso que realizava entre a sede do município de Iguaí ao distrito de Palmeirinha, ambos no Sudoeste da Bahia. Até então, ninguém foi preso e a impunidade persiste.
Este é um momento de luto, mas também de luta. Por isso, exigimos que a Justiça inicie imediatamente as investigações sobre o assassinato de Márcio. Não permitiremos que essa morte passe impune e daremos continuidade a luta popular travada por ele nas diversas trincheiras.
Nos solidarizamos com os familiares, amigos e toda militância Sem Terra que encontra-se mobilizada nos assentamentos e acampamentos espalhados pela Bahia e juntos faremos nosso choro de repúdio ser escutado. Por isso, seguiremos em marcha, de cabeça erguida, contra o capital, o agronegócio e em defesa do Socialismo, para que o sangue dos trabalhadores, que pinta nossa bandeira de rebeldia, seja um dos motivos há mais que temos para permanecer em luta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.
Bertold Brecht
Companheiro Marcinho
Presente, presente, presente!
Direção Estadual do MST na Bahia
25 de janeiro do 2018