Curso sobre Angela Davis discute feminismo, liberdade e antirracismo

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Romero Venâncio, diretor da ADUFS, fala sobre Angela Davis no auditório do sindicato (Roberto Oliveira/ADUFS)
Romero Venâncio, diretor da ADUFS, fala sobre Angela Davis no auditório do sindicato (Roberto Oliveira/ADUFS)

O curso de formação política "A Filosofia de Angela Davis" transformou o auditório da ADUFS em palco de resistência, reunindo mais de 100 pessoas nos dias 12 e 13 de junho. Ministrado pelos professores Bruna Santiago e Romero Venâncio, que também é diretor do sindicato, o evento foi organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Trabalho, Questão Social e Movimentos Sociais/UFS em parceria com o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas/UFS.

O curso foi dividido em duas partes. A primeira, na tarde do dia 12, ministrada pelo professor Romero Venâncio, tratou do tema "Angela Davis e a Filosofia". Ele começou falando sobre a formação da filósofa norte-americana, formada primeiramente em Francês, curso que lhe abriu as portas para as escolas de pensamento francesas. 

Depois, mergulhou na relação dela com o proeminente pensador alemão Hebert Marcuse, que se tornou orientador de Angela Davis e seu tutor na Escola de Frankfurt. Marcuse, lembra Romero, parcitipou da formação de toda uma geração de jovens rebeldes, como os Panteras Negras americanos e a "New Left" (Nova Esquerda) inglesa, que rendeu nome como Terry Eagleton e Eric Hobsbawn. A relação entre Davis e Marcuse marcará toda sua vida e trajetória como filósofa - ela revela em sua autobiografia. 

Por fim, Romero Venâncio partiu para a concepção de liberdade em Angela Davis, que passou a maior parte da sua vida filiada ao partido comunista dos EUA e ficou presa por 1 ano e meio, perseguida e ameaçada de morte. Ela chegou, inclusive, a ser enviada a seções manicomiais a fim de evitar seu contato com demais detentas. Mas nada calou suas ideias. 

Em sua obra, Angela Davis concebe a liberdade como um projeto: 1 - antiburgês, rompendo com a concepção dominante de "eu" (não confundir com a ideia de sujeito ou indivíduo); 2 - solidário, necessariamente anti-imperialista; 3 - existencial e classista, fortemente influenciado pelas ideias de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

A mulher na obra de Angela Davis
No segundo dia do curso, dado pela professora Bruna Santiago, o debate girou em torno do tema "A mulher na obra de Angela Davis". Ela começou sua exposição falando sobre o legado da escravidão para as mulheres nos EUA, como o enraizamento da ideia da mulher negra como "permissiva" e "despudorada". 

Baseada no livro "Mulheres, Raça e Classe", Bruna resgatou o processo do movimento sufragista americano, centrado num primeiro momento nas demandas das mulheres brancas, preterindo dessa forma a realidade social das mulheres negras. 

Outro tema importante foi os direitos reprodutivos das mulheres negras. A professora relatou a construção da cultura do estupro, que resultou na falsa ideia de miscigenação consentida, sempre ancorando-se nos escritos de Angela Davis. Em sua obra, a filósofa norte-americana trarará da violação aos direitos reprodutivos das mulheres escravizadas, que viam seus filhos (por vezes recém-nascidos) serem arrancados de si como mercadorias para serem comercializadas. A mulherada preta, escreve Davis, enfrentou a escravidão e o racismo de todas as formas nos EUA.

Bruna Santiago também falou sobre o grave problema das políticas de saúde física e mental para as mulheres negras, fato que persiste até hoje não apenas nos EUA mas também no Brasil. 

Por fim, a professora de História tratou da concepção de feminismo abolicionista de Angela Davis, construída pela norte-americana no período em que ficou presa. Davis enxerga nas prisões modernas uma reminiscência do sistema de plantation e mostra como a mão de obra negra antes escravizada passou a ser explorada nos presídios - que nos EUA são privados, em sua maioria.

Assim, criminaliza-se a negritude e constrói-se prisões como num processo industrial, inclusive com metas de lucro e parceiros comerciais que irão fornecer segurança, alimentos, produtos de limpeza etc. Para isso, mostra Angela Davis, uma das estratégias mais utilizadas foi a guerra às drogas, valendo-se sempre de dois pesos e duas medidas em relação a pessoas negras e pessoas brancas. 

Bibliografia e filmografia
Nos dois dias de curso, os professores trabalharam com quatro livros de Angela Davis (Mulheres, Raça e Classe; Mulheres, Cultura e Política; A liberdade é uma luta constante; Uma autobiografia) e dois filmes (Libertem Angela Davis; The Weatherman - Terrorismo ou engajamento político).

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