Investimento em ciência: importância, entraves e retorno

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A cientista Alicia Kowaltowski, o diretor-presidente do Instituto Serrapilheira, Hugo Aguilaniu, e a gerente de projetos estratégicos da Universidade de Nottingham Maria Augusta Arruda discutiram o financiamento da pesquisa científica no Brasil na última terça-feira (20) no “Festival Nexo + Nexo Políticas Públicas”.

Os três defenderam que financiar a ciência é fundamental para o desenvolvimento do país e criticaram a falta de recursos e de políticas públicas de longo prazo para a pesquisa científica no Brasil. Eles afirmaram que a ausência de investimento compromete o futuro de cientistas e da sociedade como um todo.

Médica de formação e professora no departamento de química da USP (Universidade de São Paulo), Kowaltowski falou sobre a aplicação da ciência no dia a dia. “A ciência é a humanidade”, disse. É a razão pela qual moramos em casas que nos protegem, temos energia elétrica e reduzimos a mortalidade infantil, por exemplo.

A professora, que também é colunista do Nexo, afirmou ainda que o país tem produção científica de qualidade, mas nunca teve uma “política clara, concisa e constante no tempo”. “Somos bons nisso, mas podemos ser muito melhores. [Financiar a ciência] é um investimento, não um gasto”, disse.

Aguilaniu falou na importância do investimento público, responsável pela maior parte do financiamento da ciência, especialmente no Brasil. É enganosa a ideia de que a pesquisa se beneficiaria se o Estado repassasse a tarefa de financiá-la para a iniciativa privada, segundo ele. “São investimentos de naturezas diferentes, complementares”, disse.

Ele afirmou que a filantropia para a ciência na pandemia da covid-19 foi importante, mas que seus resultados dependem do investimento público em pesquisa que houve antes da crise. Para investir em projetos agora, empresas puderam contar com a estrutura de laboratórios que já existiam e com cientistas já bem preparados.

Arruda lembrou o impacto dos cortes em pesquisa para pesquisadores bolsistas, especialmente os que ingressaram na academia em meio a medidas que ampliaram o acesso à universidade, como ações afirmativas. “Em duas décadas, a cara da ciência brasileira mudou. Trazer pessoas que nunca haviam chegado às universidades foi um feito”, disse. “Retroceder pode ser mais dramático que imaginamos.”

Ela afirmou que, se a população quiser cobrar mais investimento em ciência, sua ferramenta mais poderosa é o voto. “É a única arma contra o obscurantismo que estamos atravessando”, disse. Ela também apontou o diálogo como solução para a chamada epidemia de desinformação e negacionismo da ciência que ganhou força nos últimos anos.

Assista à íntegra do debate clicando nesse link.

Observação: conteúdo reproduzido do Nexo.

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