O Brasil e seus “pontos de não retorno”

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José Jailton Marques*

Partindo-se do conceito de “ponto de não retorno”, usado na aeronáutica – aquele que o avião pode atingir quando o combustível não dá mais para permitir seu pouso no aeroporto mais próximo, implicando na necessidade de um pouso de emergência ou queda fatal – e levando-se em conta o que afirmou o renomado cientista brasileiro Miguel Nicolelis nessa última quinzena, em vários canais de comunicação, em relação à Covid-19, pode-se deduzir que:

- O número de pessoas doentes não caberá nos hospitais, muito menos haverá UTI e respiradores para todos os necessitados;

- A previsão do número de mortos feita ao longo dessa pandemia poderá falhar e uma desgraça maior (o caos?) poderá reinar, inclusive com falta de cemitérios para enterrar os corpos ou mesmo a falta de espaço na agenda das equipes de agentes funerários;

- Algo ainda pior, que seria o abandono de corpos pelas ruas, levando a uma situação muito mais drástica, com disseminação desenfreada dessa e de outras doenças de origem bacteriana, por exemplo;

- O caos na saúde poderá levar a um caos na economia sem precedentes na história do Brasil. Mais fome e mais miséria serão consequências óbvias;

- O pânico provavelmente trará outras desgraças como surtos psicóticos desenfreados e...

 

Estes são alguns significados do “ponto de não retorno” que o cientista tão educada e claramente falou, mas, eis que, de uma hora para outra, uma parte do povo brasileiro bateu a cabeça e não ouve mais como antes, não entende mais como antes (talvez nunca tenha entendido), nem sequer reage mais como antes, pois suas mentes foram atingidas previamente por “pontos de não retorno” resultantes de uma mistura composta por antipetismo, lava-jatismo, olavismo, com pitadas de ódio e fascismo, que deram origem a essa poção de bruxa que muitos toma(ra)m Brasil afora.

Não tenham dúvidas que esse senhor das trevas genocida está tramando uma solução satânica para o “ponto de não retorno”. Quem sabe uma das alternativas seguintes:

- Acionar a lei de segurança nacional (instrumento escroto que nos remete ao nazifascismo) para trancafiar a população em suas casas sob artilharia pesada dos militares e de sua milícia apaixonada, que certamente irá entrar em orgasmo coletivo ao dispararem suas armas tanto prometidas durante a campanha presidencial do genocida;

- Fechar os hospitais e incinerar os corpos dos mortos e doentes com lança chamas de napalm, ainda com a aprovação de 30% dos brasileiros, segundo as pesquisas dos institutos das trincheiras mitômanas;

- Cortar qualquer migalha emergencial e proibir a distribuição de ajuda humanitária para acelerar a tão sonhada “imunidade de rebanho” que sempre perpassou pela mente doentia do inominável; entre outras loucuras imprevisíveis que poderão emanar de uma mente insana.

 

Não tenham dúvidas de que qualquer uma dessas ações será aprovada pelo congresso nacional que ainda não verá motivos para o impeachment do presidente genocida.

O elástico já esticou além da conta e não retorna mais ao tamanho original há muito tempo no Brasil; o tecido já esgarçou e já mostra as feridas nos corpos dos brasileiros; a Amazônia já queimou e se intoxicou demais; as milícias já dominam o estado em várias localidades no País; o fundamentalismo religioso já subjugou os ensinamentos cristãos, produzindo vendilhões da fé e usurpadores dos escassos recursos dos fiéis; o “Brasil do Su(l)deste”, montado numa besta chamada “agronegócio”, ocupou o “Brasil do Norte e do Centro-Oeste” e oprime com cada vez mais força o “Brasil do Nordeste”; a esquerda brasileira não consegue se unir nem para fazerem um churrasco de coxinha da asa (que agora virou tulipa); o que tínhamos de esperança para tirar o Brasil do subdesenvolvimento (o petróleo) foi entregue de vez às petrolíferas internacionais, que são estatais tratadas com o maior carinho em seus países; a insanidade mental do bolsonarismo fez muita gente banalizar a morte e até duvidar que elas estejam existindo (essas pessoas jamais entenderão o que significa o “delta” da Matemática no cálculo de variações); a imprensa já rasgou a página contendo o trecho de juramento de imparcialidade há muito tempo, tendo maior parte da grande mídia guinado em definitivo para o submundo mercenário do “pagou, publicou”, apesar de continuar iludindo o público com suas técnicas de distração muito bem planejadas; enfim, sem percebermos, atingimos diversos pontos de não retorno.

Do exposto, pergunto aos brasileiros não infectados pelo “mitovírus”: vamos de fato ficar vendo os vendilhões e entreguistas destroçarem tudo que tínhamos construído com tanto esforço e às custas de tantas mortes da escravidão, das guerras, dos golpes e das diversas atrocidades do passado?

Vamos continuar deixando que zumbis odiosos (minoria) definam nosso futuro?

Vamos reeleger políticos que sentam em mais de 100 processos de impeachment enquanto morrem no País quase 4.000 pessoas por dia e quase metade da população não tem mais acesso ao alimento para suas 3 refeições diárias?

Vamos deixar que os colonizadores do passado, que tomaram as terras dos povos indígenas, iludindo-os com espelhos, nos levem o petróleo e nossos farrapos de soberania?

Os crimes que estão sendo cometidos por maioria dos que deveriam ser nossos representantes são dos mais abomináveis, são crimes contra o povo e a pátria, dignos de punições capitais em certos países. Acordemos agora para não corrermos o risco de acordarmos mortos!

 

José Jailton Marques é professor do Departamento de Engenharia Ambiental da UFS, natural da zona rural de Japaratuba (SE) e membro da Diretoria da ADUFS.

 

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