Sobre Marias, Coras e Clarices, a homenagem de uma Eliana

Notícias

Hoje é o dia internacional da mulher.

E não são poucas aquelas que merecem ser lembradas.

Mulheres pretas, brancas, indígenas. Mulheres revolucionárias.

Pintoras, políticas, cantoras, escritoras, poetisas, professoras.

Mulheres alegres, tristes, estrelas, cheias de luz.

Mulheres poderosas, felizes consigo, com o mundo, com a natureza.

Mulheres inconformadas. Mulheres de todas as cores, de todas as áreas, de todos os lugares – asiáticas, africanas, europeias, oceânicas, americanas do Norte e do Sul.

Mulheres mangabeiras, camponesas, catadeiras de siri. Mulheres rendeiras. Guerreiras.

São tantas e, mesmo no singular, são muitas. Mas selecionei apenas três delas para prestar nossa homenagem. Três mulheres corajosas, sábias, amadas, sonhadoras. Seres em profundidade.

A 1ª. Maria. Alagoana.  Mulher incrível, invisível – mulher do cotidiano – conhecida entre os seus como Solange. Parteira, costureira, cozinheira. Maria. Queria estudar, mas foi impedida por meu avô, porque era mulher e, assim, “não precisava de estudo, bastava aprender a escrever uma carta e responder outra.” Mãe de 10 filhos, viúva aos 37 anos se viu obrigada a reinventar a vida para sustentar sua prole e ensinar o caminho do bem – minha mãe. Maria, Maria, Maria, tantas Marias numa só. Marias que estão a reinventar a vida e se eternizam.

A 2ª. Cora Coralina. Goiana. Escritora, poeta. Cursou até o 3º. ano primário. Teve 6 filhos. Ficou viúva aos 45 anos quando precisou, como tantas Marias, a começar a trabalhar como doceira, para criar seus filhos. E do principal jornal do Estado foi colaboradora.  Entre esses papéis, também foi vendedora de livros. Assim, assegurava o ganha pão. Aos 70 anos aprendeu datilografia para organizar seus versos entre os quais “recria a vida, sempre, sempre”. Aos 75 anos se tornou conhecida a partir de seus poemas. Um exemplo de mulher que mostrou a beleza e sensibilidade da alma feminina mesmo quando o horizonte se escondia.

A 3ª.  Clarice Lispector. Nasceu na Ucrânia (1920-1977). E, por isso, presto nossa homenagem a mulher ucraniana. Nesse momento de agonia, somos todas ucranianas. Nossa solidariedade. É difícil medir os estragos da guerra. Mas é fácil deduzir que em todas as guerras as mulheres, em que pese o peso daqueles que perderam a vida, são as mais afetadas. Elas, no meio da luta, aconchegam as crianças, curam as feridas, reinventam novo começo e germinam a esperança. Clarice, na fuga de seu país de origem frente a perseguição aos judeus durante a guerra civil Russa, (1918-1922) chegou ao Brasil, em Maceió, com 2 meses de vida e aqui se fez. Culta, Escritora e Jornalista. Está entre os maiores nomes da literatura Brasileira de todos os tempos. Cidadã do mundo. Chegou a ser elevada ao “expoente máximo da escrita feminina”.

Ao fim, um dos seus poemas resume essa mulher homenageada no dia de hoje.

“Ela é assim! Pronto. Mas assim como?

Ela é um mix de tudo que se possa imaginar dentro de uma grande capacidade de apenas não ser nada em definido. Ela é aquilo que não consegue se encaixar em moldes pré-existentes, parece que ninguém nunca foi antes dela.

Ela se incomoda com isso (...) Ela é cheia de sentimentos, parece que suas experiências se manifestam é no dorso do seu colo, e quase sempre, de vez em quando, tudo isso pesa... Ela é diferente. Algo que pesa e que tem o dom da leveza, algo que chora e que se manifesta em sorrisos, algo de forte, mas que se desmancha quando encontra água”.

 

Eliana Romão, professora da Universidade Federal de Sergipe. 8 de Março de 2022

 

Veja também