“A memória está sendo jogada na lata do lixo”, diz Romero Venâncio

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Romero Venâncio é professor de filosofia da UFS e diretor da ADUFS (Carolina Timoteo/ADUFS)
Romero Venâncio é professor de filosofia da UFS e diretor da ADUFS (Carolina Timoteo/ADUFS)

O Brasil está desmemoriado. É o que pensa Romero Venâncio, professor do Departamento de Filosofia e diretor de comunicação da ADUFS.

Docente da UFS há mais de duas décadas e um dos principais intelectuais da Universidade, Romero se diz preocupado com a forma que o país tem lidado com a própria história. “A memória está sendo jogada na lata do lixo”, dispara.

Para ele, a ordem que o presidente Jair Bolsonaro deu para as Forças Armadas para comemorarem o golpe militar de 1964 é um forte sintoma da perda de memória que acomete o Brasil.

“Desde 2013, sentimos no ar uma perplexidade que a cada ano se aprofundou até seu ponto alto, que foi 2018 e a ‘bolsonarização de um Brasil’. Vemos, quase que impotentes, pessoas de todas as idades defendendo tortura e torturadores; pedindo a volta dos militares como governantes; a defesa do golpe de 1964 e toda uma cultura fascista que vem ganhando capilaridade em todos os setores da sociedade brasileira”, avalia o filósofo.

Segundo Romero, a cultura do ódio e da violência como forma de fazer política é outro sinal importante de que uma parte do Brasil adoeceu – e não acredita mais nem nos próprios fatos.

“Um ódio espalhado em tudo e como método de fazer e pensar em política. Um sentimento ronda nosso pequeno Brasil: a memória sendo jogada na lata do lixo. Para que serve memória quando qualquer um pode fazer sua leitura em redes sociais e achar que tem uma verdade meramente emprenhada pelos ouvidos e por leituras sem fonte alguma, encontradas nas mesmas redes sociais ou em livros de que beiram o ridículo em limitadas argumentações?”, questiona.

‘Onde estamos todos e todas?’
Para o diretor da ADUFS, é preciso que as esquerdas reflitam sobre o processo histórico atual, incentivando discussões, conteúdos e produções artísticas que rememorem à sociedade o que aconteceu nos 21 anos de ditadura militar no Brasil - como torturas, assassinatos e estupros políticos, fechamento do Congresso Nacional, cassação dos direitos políticos e da liberdade de imprensa e expressão, entre outros.

“Em outros momentos da história desse Brasil, as esquerdas em geral e boa parte de intelectuais e educadores faziam numa semana como esta de agora seminários, exibições de filmes, palestras, publicação de livros, ensaios, textos em jornais e até atividades de rua no intuito de disputar uma narrativa dentro da sociedade sobre o significado do golpe de 1964 e tudo que ele representou em 21 anos de duração”, afirma Romero.

“Nós temos uma literatura vasta e importante no que diz respeito a leitura do golpe; temos um cinema que muito falou da ditadura em suas várias fases históricas; temos um teatro, uma poesia, uma pintura, uma escola fotográfica ou ainda um setor do jornalismo que sabe e viveu o golpe e a ditadura. Onde estamos todos e todas?”, provoca.

Por fim, Romero admitiu estar preocupado com a conjuntura política e com o futuro do Brasil. Na sua opinião, o risco de não se conhecer o passado é ficar preso nele, projetando suas sombras para o amanhã

“Me preocupa demais nesse momento esse clima sombrio. Uma esquerda que não sabe organizar sua memória e aprender com a memória dos debaixo, sofrerá num eterno presente e frustrará o futuro.”

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