Universidade (ainda) pode desempenhar papel fundamental durante a pandemia

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Beatriz Tupinambá Freitas*

Estamos numa situação de pandemia que já ceifou mais vidas do que a bomba atômica que destruiu Hiroshima. Nossa sociedade tem uma capacidade de adaptação notável, mas que, nem sempre, é saudável. A condição atual onde o negacionismo e a anticiência invadem os meios de comunicação e os grupos sociais, leva-nos, como Academia, a adotar um posicionamento ainda mais agressivo na proteção de nosso papel na sociedade.

Sabemos que não temos um desenho de sociedade nem ao menos próximo do aceitável, a exclusão social de grande parte de nossos discentes deve nos levar a pensar com muito cuidado sobre sua situação. Muitos de nossos estudantes não apresentam condições de se manter em Aracaju, tendo sido obrigados a voltarem para a casa de seus familiares no interior. Essa realidade também faz com que sejam ainda mais prejudicados já que, até mesmo na capital, a internet não consegue cobrir todas as áreas.

Outro fator que também temos que levar em conta é que vários docentes e discentes tem idosos, pessoas com deficiência e crianças para cuidarem em seu domicílio. Com isso a possibilidade de assistirem ou ministrarem aulas síncronas é muito prejudicada. Esta é uma dificuldade real e temos vários exemplos que já viralizaram nas redes, expondo as pessoas ao ridículo. Estaremos prontos para encarar um evento deste? Incidentes se chamam assim por conta de sua imprevisibilidade, mas as chances podem ser minimizadas.

Junta-se a todos estes argumentos uma possibilidade de ouro que a Universidade tem em mãos e parece não estar se dando conta. Ultimamente, com os ataques que a Academia vem sofrendo de um grupo de pessoas que querem retornar nossa sociedade aos padrões pré-renascentistas, da idade das trevas explicitamente falando, seria a hora ideal para darmos uma guinada em nossos planos. Sempre nos é cobrado um posicionamento mais próximo da sociedade. Há ocasião mais adequada? A sociedade está clamando por auxílio. Nós temos um papel importantíssimo para desempenhar. Este papel faz parte do tripé de nosso modelo de Universidade: ensino/pesquisa/extensão.

O momento atual é ideal para incrementarmos nossas ações na extensão. Todos os Centros, todos os Departamentos, todos os Cursos de nossa Universidade podem contribuir tanto na modalidade de extensão quanto na da pesquisa. Sobram oportunidades e escassez de ofertas neste campo. As pessoas não sabem o alcance deste vírus, seu potencial letal, haja visto as aglomerações que todo tempo vemos na cidade, o clamor para abertura de shoppings e, por mais absurdo que pareça, das escolas...

Por fim, o posicionamento da ADUFS/ANDES é contrário a qualquer prática intempestiva na educação, contra colocar os professores compulsoriamente em situações ainda mais estressantes, com efetividade muito questionável e que, na realidade, não contribuirá para a sociedade sobreviver a esta pandemia.

 

Beatriz Tupinambá Freitas é professora da UFS e diretora da ADUFS.

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