Julho das Pretas: viva a luta das professoras negras!

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A batalha de mulheres negras para ocupar espaços que lhes foram negados é árdua. E, na educação, a lógica não é muito diferente. Mulheres negras estudantes e docentes enfrentam muitas barreiras para acessar e permanecer nas universidades, produzindo ciência e conhecimento.

Por isso, em alusão ao Julho das Pretass, compartilhamos alguns relatos de professoras da Universidade Federal de Sergipe sobre ser uma mulher negra docente. 

Para começar, trazemos a reflexão da professora Vera Núbia Santos, do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social:

“Estar numa universidade pública já é um desafio enorme para as pessoas negras desde a entrada nos cursos de graduação. Na docência, não é diferente. A discussão estrutural e institucional do racismo não se é evidenciada, pois o “mérito” é valorizado como se fosse o aspecto essencial que nos diferencia. Sob o manto da igualdade, as condições que nos fizeram “chegar  lá” e manter-nos são invisibilizadas. Como mulher, esse marcador acentua-se, muitas vezes, pela falta de percepção das condições de trabalho a que somos submetidas, desconsiderando o aspecto da dupla jornada que nos é imposto cotidianamente. É possível reverter algumas  situações. Precisamos elevar ainda mais as nossas vozes e apontar caminhos que nos levem à visibilidade como mulheres, e como negras”.

A professora Isa Regina Santos dos Anjos, do Departamento de Letras/Libras da UFS, aponta os desafios enfrentados no cotidiano da Universidade.

“Meu maior desafio é fazer com que a universidade reveja a sua forma majoritária e hegemônica de produção de conhecimento, a qual legitima e aumenta as desigualdades. Busco também a diminuição do impasse histórico de pouca representatividade de mulheres negras em espaços de poder, e defendo  o esforço individual e institucional para a construção de uma educação antirracista, inclusiva e de qualidade, de modo a universalizar o ensino e reduzir  as desigualdades. Sigo afirmando que representatividade importa e, embora sendo poucas as mulheres negras docentes em universidades, mostro  aos meus alunos que estamos caminhando na direção certa, pois houve um tempo em que não havia nenhuma.  Faço minhas as palavras de Azoilda Trindade: “A invisibilidade é a morte em vida”.

A professora Tereza Martins, do Departamento de Serviço Social da UFS, tem razão quando fala do racismo institucional. “Avalio que a universidade pública é um espaço onde o racismo impede que as docentes  negras desenvolvam todo o seu potencial”.

Como lembra a professora Marilene Santos, do Departamento de Educação do Campus Itabaiana, cada conquista de uma mulher negra é, na verdade, uma grande vitória contra o racismo. “Considero uma vitória ser professora da Universidade Federal de Sergipe. Não é um espaço fácil para nós mulheres negras. Ainda somos olhadas meio de lado e com surpresa. É como se não pudéssemos estar ali. Mas, desde quando eu era estudante até hoje como professora, a UFS tem melhorado nas posturas discriminatórias, porém tem muito a avançar ainda”.

 

 

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