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De 26 de fevereiro a 1º de março de 2024 muita água se passou pela ponte da docência universitária brasileira. Professoras e professores das instituições federais, estaduais, distritais e municipais se reuniram em Fortaleza (CE) para destrinchar uma série de ações e planos de lutas para o ANDES-SN, maior sindicato de categoria docente de Ensino Superior da América Latina.

A delegação sergipana contou com quatro mulheres e seis homens. A ADUFS levou nove dos 457 delegados e delegadas do Congresso, além de um observador, em meio a representações de 86 entidades sindicais de base. O Congresso marcou o retorno de seções importantes, como o Sindicato dos Docentes da UFC (Adufc), que sediou o Congresso, o retorno da Adufscar e a entrada de organizações recém-criadas, como o Sindicato dos Professores da Escola de Música do Espírito Santo (Sindifames) e a Seção Sindical dos Docentes da Universidade do Distrito Federal.

Parte da delegação sergipana

 GREVE NO PRIMEIRO SEMESTRE

Dentre uma série de ações e pontos apontados nos Planos de Lutas das Federais, Estaduais e Municipais, ganha destaque a construção da greve para as universidades federais. A decisão foi tomada mediante a ausência de respostas do Poder Executivo nas rodadas da Mesa de Negociação Permanente, em meio frente à campanha salarial 2024-2025. A plenária aprovou, por maioria dos votos, para a construção de uma greve ainda no primeiro semestre de 2024.

Votação da greve no primeiro semestre de 2024

Para Bartira Telles, vice presidenta da ADUFS e uma das delegadas do Congresso, a pauta da paralisação foi o ponto de convergência na totalidade dos participantes, com diferenças táticas sobre temporalidade e método. “Este chamado foi impulsionado por diversos coletivos que disputam o ANDES, inclusive o coletivo que se apresenta como oposição à atual Diretoria, então a tônica para a greve foi uma só. As diferenças que tivemos foi quanto à temporalidade da greve e metodologia de construção deste movimento.”

Caberá às assembleias de base definir ou não a deflagração da paralisação em cada instituição.

Bartira Telles, vice presidenta da ADUFS

PLANO DE LUTAS

A plenária do 42º Congresso também aprovou a luta combinada contra a PEC 32 – a famigerada Contrarreforma Administrativa – além de 20 moções de temas diversos. O congresso também marcou posição pela Carreira Única para a docência, a Luta contra o Novo Ensino Médio (NEM),  o BNC-Formação, dentre outros pontos. Foi aprovada uma moção em defesa da professora Jacyara Paixa, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), membro da Diretoria do ANDES -SN e  vice-presidenta da ADUFES. 

O plenário também aprovou, por unanimidade, uma declaração de apoio ao povo palestino intitulada “Não é guerra, é genocídio”, além de um ato público ocorrido na quarta-feira (28).

Ato em solidariedade ao povo palestino na UFC

O professor Samuel Canevari, do Departamento de Matemática, participou do Congresso do ANDES pela primeira vez e ressaltou a amplitude das pautas abarcadas pelo Sindicato Nacional. “Mantivemos a posição pelo “revogaço”, contra as políticas de austeridade do governo, em especial a Reforma Administrativa e o neofascismo. Tudo isso é importante para mobilizar a categoria para os próximos meses, para além da nossa pauta salarial”, afirmou.

Professor Samuel Canevari, Departamento de Matemática

ENFRENTAMENTO AO ASSÉDIO

O Congresso aprovou a criação e fortalecimento os protocolos de assédio moral e sexual nas universidades brasileiras, a serem construídos juntamente com o o Grupo de Trabalho de Política de Classe para Questões Étnico-raciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) do ANDES SN. A Comissão de Enfrentamento ao Assédio no 42º Congresso do ANDES-SN recebeu três denúncias, que serão devidamente apuradas e encaminhadas em um prazo de 30 dias.

Ato em solidariedade ao povo palestino

Este foi o primeiro congresso da professora Shirley Andrade, professora do Departamento de Direito e delegada da ADUFS. Para ela, as ações de enfrentamento ao assédio e políticas de inclusão de gênero foram pontos fundamentais do espaço “Uma coisa muito importante foi a preocupação com o respeito ao gênero e à diversidade. A presença da Comissão de Assédio garantiu um espaço mais propício para a participação das minorias nas discussões”, salientou.

O congresso foi dividido em 14 grupos mistos

A CLASSE PARA ALÉM

A professora Lívia Almeida, do Departamento de Educação do Campus Itabaiana, fala sobre a diversidade e multiplicidade dos espaços do congresso quanto à reflexão sobre a composição da realidade brasileira, as tarefas da docência no movimento social como um todo.

Professora Lívia Almeida, Departamento de Educação do Campus Ita

“Nos aprendizados que construídos nas discussões nos grupos mistos, nas plenárias e nos atos realizados durante o evento, também observei que as discussões encaminharam no sentido de desvelar a ideia de uma classe trabalhadora homogênea, trazendo análises concretas dos movimentos da realidade que apontam que no bojo das lutas por justiça social não podemos desconsiderar as consequências e mazelas causadas pelo racismo, machismo e LGBTQIAP+fobia.”

NOVA METODOLOGIA

O professor Augusto Cesar Vieira, do Departamento de Secretariado Executivo, chama a atenção para a nova metodologia aprovada para os próximos congressos. Participante dos fóruns e espaços do ANDES desde 2013, ele afirma que a nova metodologia traz mais dinamicidade para as discussões e polemicas, evitando grandes jornadas madrugada adentro.

Professor Augusto Vieira, do Departamento de Secretariado Executivo

“A nova metodologia de aprovação dos Textos de Resolução garante que os textos aprovados em um terço dos grupos mistos e que não tenham tempo de serem discutidos nas plenárias possam ser automaticamente aprovados. Essa decisão agiliza as ações do ANDES e ADs sem a necessidade de ter que serem reportadas para outro evento, a exemplo do CONAD, para que sejam discutidas.”

PARTICIPAÇÃO DOS APOSENTADOS

O professor Marcos Pedroso, aposentado do Colégio de Aplicação, chama a atenção para o indicativo de greve como ponto central do Congresso, além da necessidade de construir a mobilização de forma horizontal. “Foi importante definir os rumos da campanha salarial neste ano, e agora devemos levar para a nossa base. Já que o nosso sindicato é horizontal, e não vertical”, ressaltou.

Marcos Pedroso, aposentado do Colégio de Aplicação

Para o professor Airton de Paula, aposentado do Departamento de Economia, fala sobre a necessidade das aposentadas e aposentados na mobilização para aprovação, na base da greve da categoria no primeiro semestre de 2024. “O aposentado, mais do que ninguém, deve se incorporar à luta. Porque a contraproposta do governo não tem nada pra aposentados, para os ativos ainda tem um penduricalho ou outro, ou a gente se mobiliza pra estar na LOA de 2024 ou vai ser difícil.”

Airton de Paula, aposentado do Departamento de Economia

O QUE PODE MELHORAR

Apesar do sucesso, algumas questões do 42º Congresso do ANDES deixaram a desejar, sobretudo no campo da estrutura e logística. Para Shirley Andrade, a questão da alimentação deve ganhar destaque nas próximas edições. “O Congresso deve pensar pessoas com problemas na alimentação, sobretudo pessoas veganas e alérgicas. A mesinha para veganos, alérgicos e intolerantes a lactose foi muito pequena e todo mundo tinha acesso, não havia qualquer controle, quando eu chegava para comer não tinha mais nada. A questão das cadeiras também precisa ter atenção, são muito desconfortáveis, quem tem comorbidade teve bastante dificuldade”, ressaltou.

Professora Edineia Tavares, Departamento de Química do Campua Ita

O professor Marcos Pedroso apontou para a intensidade dos espaços e sugere aumentar os dias de congresso. “Foi muito cansativo, a gente deveria aumentar o Congresso em um dia ou restringir a quantidade de Textos de Resolução para apreciação”, ressaltou.

A professora Edineia Tavares, do Departamento de Química do Campus Itabaiana, ressaltou a divisão das salas na plenária, além do foco da questão da carreira docente. “Separar a sala da plenária com uma sala de transmissão foi um ponto negativo, apesar da estrutura em geral estar excelente. Outro ponto é que o congresso deveria focar mais nas questões da carreira docente, condições de Trabalho e Previdência”.  

E ZÉ FINI

Ao final do 42º Congresso, foi feita a leitura da “Carta de Fortaleza”, documento que sintetiza as principais resoluções e decisões do Congresso.  A plenária também aprovou a sede do 43º Congresso do ANDES, que será em Vitória (ES), tendo a Adufes como organizadora responsável.

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