Soliticação Negada:
Estudantes enfrentam dificuldade para uso de veículos da UFS

Para os estudantes de Design Gráfico da UFS, o processo de solicitação de uso do ônibus começou bem cedo, em janeiro deste ano. Ramon Silveira, do Centro Acadêmico do curso, deu entrada na documentação para que a turma participasse do Encontro Nacional dos Estudantes em Curitiba, ocorrido no mês de julho. Foram várias tentativas de conseguir o apoio, porém, o resultado sempre o mesmo: solicitação negada.
“Não é qualquer evento, e principalmente pra nossa área, que não é regulamentada, então raramente acontece”, explicou Ramon, que estuda em um curso relativamente recente da UFS – Design Gráfico abriu sua primeira turma em 2010 – e com problemas recorrentes de estrutura, como falta de equipamento e professor efetivo. “Tivemos 18 pessoas selecionadas em edital pra ganhar isenção no pagamento e pra participar da construção do evento”, relatou Ramon, mas, mesmo assim, a oportunidade foi perdida diante de mais uma recusa da administração da UFS em ceder o ônibus oficial para viagens.
A Instrução Normativa Nº. 01/2008 regulamenta a permissão do uso de veículos oficiais da UFS em eventos científicos, congressos de entidades estudantis e atividades relacionadas à Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PROEST). Atualmente, as solicitações de transporte para eventos, pelos estudantes, são direcionadas à DITRAN (Divisão de Transportes), vinculada à Superintendência e homologadas após apreciação da Pró-reitoria de Administração (PROAD) pelo Gabinete do Reitor, com os processos sendo abertos pelas chefias de departamento, diretamente no Sistema de Gestão da UFS.
Conforme o relato de estudantes, apesar de seguir todo o protocolo, tem sido cada vez mais difícil conseguir esse tipo de apoio da universidade.
Design Gráfico não foi o único curso a receber negativa. A estudante Acsa Rebeca, de Turismo, passou pela mesma situação e ressaltou mais um agravante: devido à dificuldade em realizar viagens não só acadêmicas, mas técnicas também, alguns colegas estão migrando para o curso técnico do Instituto Federal de Sergipe (IFS), onde o auxílio para viagens ocorre com menos burocracia.
“Essa luta já tem um tempinho que a gente passa aqui. Às vezes, o calouro vem, entra no curso de Turismo, começa a sentir falta de visitação e acaba migrando pra outro curso ou pro IFS, porque lá eles têm mais oportunidade do que nós, aqui da federal. É algo bem frustrante para mim, como futura profissional. A gente vê que (o curso) tem muito do lado teórico e pouca prática”, afirmou Acsa.
Segundo seu relato, o curso de Turismo da UFS acaba se adaptando à limitação do uso do transporte e a maioria das visitas técnicas ocorre na Grande Aracaju. Se houver necessidade de conhecer outro Estado, para estudo em termos comparativos, as chances de sucesso diminuem. Tanto Acsa quanto Ramon afirmaram que o argumento da reitoria para as sucessivas negativas sãos os cortes no orçamento.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) informou que outros cursos trouxeram a mesma demanda, como Teatro e Comunicação. Mesmo intermediando os processos e facilitando as reuniões com a equipe gestora da universidade, as solicitações não estão recebendo sinal positivo.
“Essas viagens servem para apresentar projetos, trabalhos, fazer investigação científica, e isso eles não têm tanta oportunidade”, explicou o estudante Matheus Pacheco, representante do DEC, ressaltando a importância de oferecer esse tipo de apoio aos cursos da UFS que estão mais vulneráveis em termos de estrutura. “Para os cursos que não são tão grandes, esse apoio ia servir ainda mais. Eles (a reitoria) alegam que não tem verba na universidade, de fato é verdade que a UFS sofreu corte de verba, mas a gente não tem a transparência de ver como isso está sendo investido”.
Segundo a PROAD, os recursos para transporte não ficam separados em dotação específica, fazendo parte do orçamento geral da UFS. Com a redução de custeio e término do contrato de motoristas, foi dada prioridade para as viagens relacionadas às atividades de campo dos cursos de graduação. A informação é que a redução de custeio no orçamento 2017, não sendo aplicada a inflação do ano anterior, foi de 15%.
Também citou em entrevista que a situação relativa aos motoristas terceirizados, que não podiam realizar viagens interestaduais, também foi ajustada recentemente. As poucas liberações ocorridas, não relacionadas a atividades de campo, foram realizadas após o ajuste da situação do contrato de motoristas, e considerando também o alcance não limitado a um curso específico.
A PROEST informou que o Reitor Angelo Antoniolli solicitou encaminhamento de estudos que viabilizem um número maior de viagens solicitadas por órgãos de representação estudantis, levando em conta fatores como número de veículos disponíveis (01 ônibus de 52 lugares) e disponibilização para os diversos centros e campi.
Independente do resultado, a problemática do apoio de transporte na UFS deve permanecer em discussão entre os estudantes, conforme enfatizou Matheus. “Precisa mobilizar os estudantes em torno dessa pauta, não é a primeira vez que se faz uma solicitação de ônibus lá e é negada. Essas viagens são muito importantes para a gente, em questão de movimento estudantil, questão de conhecimento científico”.